Após pedido de bloqueio de até R$ 20 milhões, BC encontra apenas R$ 798,61 em contas de ex-diretor do DER-PR

O ex-diretor do Departamento de Estradas de Rodagem no Paraná (DER-PR), Nelson Leal Junior; ele foi preso na 48ª fase da Lava Jato (Foto: Reprodução/ RPC Curitiba)

O ex-diretor do Departamento de Estradas de Rodagem no Paraná (DER-PR), Nelson Leal Junior; ele foi preso na 48ª fase da Lava Jato (Foto: Reprodução/ RPC Curitiba)

 

O Banco Central do Brasil (Bacen) bloqueou R$ 798,61 do ex-diretor do Departamento de Estradas de Rodagem no Paraná (DER-PR), Nelson Leal Junior. Ele e mais cinco pessoas foram presos na 48ª fase da Lava Jato.

Os valores bloqueados pelo Bacen foram protolocados no site da Justiça Federal (JF) na tarde desta segunda-feira (26). O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da operação na primeira instância, havia decretado o bloqueio de até R$ 20 milhões das contas de cada investigado.

Após pedido de bloqueio de até R$ 20 milhões, BC encontra apenas R$ 798,61 em contas de ex-diretor do DER-PR (Foto: Reprodução/JF)

Após pedido de bloqueio de até R$ 20 milhões, BC encontra apenas R$ 798,61 em contas de ex-diretor do DER-PR (Foto: Reprodução/JF)

A atual etapa da operação apura corrupção, fraude a licitações e lavagem de dinheiro na gestão das concessões de rodovias federais no Paraná. De acordo com a investigação, o valor do pedágio foi superfaturado para financiar a corrupção.

Nelson Leal é suspeito de usar o cargo que ocupava no DER-PR para editar atos em favor das concessionárias.

 

Apartamento e barcos de luxo

Na sexta-feira (23), a Justiça também sequestrou o apartamento de luxo de Nelson em Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina. O apartamento custou mais de R$ 2,5 milhões. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), R$ 533 mil não tiveram a origem identificada.

Os procuradores afirmam que ele colocava R$ 20 mil, R$ 40 mil em malas, sacolas e viajava mais de 200 quilômetros para entregar o dinheiro à construtora.

O MPF afirma ainda que, quando ia pra Santa Catarina, Nelson costumava alugar barcos para passear com amigos e família. Segundo as investigações, a preferência era por embarcações grandes, com dois quartos, uma suíte, banheiro e cozinha. A diária chega a custar R$ 16 mil.

O advogado de Nelson, Beno Brandão, reforçou que, além do bloqueio de R$ 798,61 nas contas, houve também o sequestro do apartamento do cliente em Balenário Camboriú.

Informou, ainda, que pretende apresentar, nesta segunda-feira, explicações a Moro sobre os argumentos que deram base à prisão de Nelson.

Outros investigados

Carlos Felisberto Nasser, que é funcionário com cargo em comissão da Casa Civil e um dos homens de confiança do governador Beto Richa (PSDB), teve R$ 274.683,09 bloqueados. A mesa de Nasser na sede do governo estadual, em Curitiba, foi alvo de busca e apreensão.

O Ministério Público Federal (MPF) chegou a pedir a prisão dele, mas Moro negou.

Além de Leal Junior e Nasser, os seguintes investigados tiveram valores bloqueados nas contas:

  • Gilson Beckert: R$ 446.776,27;
  • Oscar Alberto da Silva Gayer Junior (preso): R$ 80.802,36;
  • Wellington de Melo Volpato (preso): R$ 57.244,78;
  • Leonardo Guerra (preso): R$ 217.305,22;
  • Hélio Ogama (preso): R$ 207.367,39;
  • Paulo Garcez Beckert: R$ 27.476,48;
  • Gtech Engenharia e Planejamento LTDA: R$ 598.269,00.

O advogado de defesa de Oscar Alberto Gayer da Silva, Walter Bittar, afirmou que Oscar será ouvido nesta tarde, na sede da PF. "Ocasião em que esclarecerá todas as dúvidas que as autoridades tiverem. Após o depoimento, será protocolado pedido de desbloqueio, posto que não há nenhuma ilegalidade que justifique a medida cautelar", disse.

Gabriel Bertin, advogado de Hélio Ogama informou que Ogama presta depoimento nesta segunda-feira e que "a defesa, no momento, nada tem a comentar" a respeito.

 

Pedágios mais caros

Perícias técnicas realizadas pelo MPF apontaram um superfaturamento nos valores das obras das concessionárias.

Um laudo técnico, que usou como parâmetro a tabela do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), da Caixa Econômica Federal, mostrou que o sobrepreço de itens da planilha chegou a 89% em relação ao valor de mercado.

O desvio de dinheiro para pagamento de propina pode ter trazido prejuízo para motoristas que passam pelo Paraná.

"A operação de hoje [quinta-feira, 22] simplesmente é a tentativa de investigar uma ferida aberta no estado do Paraná, que são as altas tarifas do pedágio e suas justificativas", disse o procurador do MPF Carlos Fernando dos Santos Lima.

De acordo com o MPF, um estudo apresentado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em 2012, mostrava que a tarifa de pedágio poderia ser reduzia em 18%, mas o que houve foi um aumento de 25%. O valor ficou mais caro por causa de aditivos ao contrato, justificados pelo DER-PR.

Os procuradores dizem que, à mesma época, Nelson comprou um apartamento de luxo em Balneário Camboriú, no litoral de Santa Catarina, e que pagou parte em espécie, com malas e sacolas de dinheiro. A Justiça sequestrou o imóvel.

No pedido de prisão, o MPF afirma que Nelson vinha usando o cargo para editar atos em favor das concessionárias. Ele nega as acusações. Depois da prisão, o governador Beto Richa (PSDB) determinou o afastamento dele do cargo.

De acordo com o MPF, a concessionária Econorte recebeu cerca de R$ 2,3 bilhões de tarifas pagas pelos usuários entre 2005 e 2015.

Desse total, pelo menos R$ 63 milhões foram repassados, conforme o MPF, para empresas de fachada ou sociedades cuja prestação de serviço ou entrega de produtos não foi confirmada.

A Lava Jato chegou até as empresas de pedágio porque os envolvidos usavam o mesmo esquema revelado na operação, com a participação de dois operadores já investigados pela Lava Jato: Adir Assad e Rodrigo Tacla Duran.

 

Fonte: https://g1.globo.com